quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Espectador e a Bailarina - I

Amiga bailarina, oi!

São 03:55AM, mais uma vez não consigo dormir...

Cheguei há pouco de uma festa, até que me diverti... Como sempre, me senti um espectador e não uma personagem dessa peça maior que é a vida. Sempre me excluo da cena que acontece e observo as personagens — meus amigos falando, rindo, dançando, etc. Eu gosto de observar a relação entre eles, a forma em que acontece. Por isso me sinto fora de cena.

Está um frio gostoso, o rádio toca algo do Gilberto Gil. Meu corpo está esgotado, mas minha mente não para e bem que queria dormir um pouco.

Minha cama foi invadida por formigas, que picaram até meu sovaco. Tentei dormir assim mesmo e rodei para lá, rodei para cá, e então chegaram os pensamentos. Pensei: faz tempo que não paro para refletir; e achei até certo ponto bom, pois difícil é fugir de todas as perguntas da mente.

Então veio você em meus pensamentos. Pensei: criamos uma imagem das pessoas e as vemos por um prisma, mas isso não quer dizer que a pessoa seja o que vemos ou achamos que vemos. Será que ela é o que se deixa ver e não o que é? Não conhecemos o outro, apenas tentamos entender, a partir do que somos e cremos. Isso é uma visão falha. Mas como o outro se vê? Como ele deseja ser visto? E como é que devemos ser?

Na verdade criamos convenções de uma forma inconsciente ou consciente.

Criamos essa imagem até certo ponto, e achamos que é uma falta de honestidade ou personalidade se a pessoa quebrar ou romper com a imagem que criamos. E acabamos por esquecer que nós mudamos e os outros também. Esperamos ações e posições sobre-humanas das pessoas. Devemos enxergá-las como simples humanos, mas só conseguimos fazê-lo deste modo, e aceitar ou pedir que entendam os erros, quando esse "outro" somos nós.

Loucura tudo isso, né? Bem, eu e meus pensamentos... Quem nos quer? Quem nos entende? Acho que nem eu!

Fiquei feliz com suas palavras: “eu presto atenção em tudo que você fala”. Nesse momento me senti a pessoa mais importante do mundo!


Agradeço sua imagem que me possibilitou essa escrita.

Aguardo retorno.

Espectador.


Robson Freire

(Trecho de "O Espectador e a Bailarina" )

sábado, 23 de outubro de 2010

Jongo Folha de Amendoeira

Ó só... Dia 1° de novembro (véspera de feriado) o grupo de jongo (Jongo Folha de Amendoeira) do qual faço parte, fará uma bela roda num evento chamado ''Arte Jovem'', no Espaço Convés. A roda é aberta, é só chegar, e cantar, e dançar, e brincar com a gente!

Local: Espaço Convés (Rua Cel Tamarindo 137, Gragoatá – Niterói - RJ). Horário: A partir das 20 hs. Ingresso: R$1,99.

''O JONGO é uma dança de origem africana que veio para o Brasil no período colonial, se instalou no Vale do Paraíba que contempla os quatro estados do Sudeste. Ele vislumbra a integração de todos através de elementos como os tambores, a roda, e os pontos: cantos metafóricos que serviam como mecanismos de denúncia a respeito do que se passava nas senzalas, estratégia de fugas, emboscadas, etc. (...)''

Vamos?! Então é isso, e mais não digo, um beijo estalado no buraco do ouvido!


Carolina Oliveira

sábado, 16 de outubro de 2010

Chegada e Par - tida

Vou,

volto,

ReVoLtO,

retomo,

cor - to,

re - cor - to, p - i - c - o e colo,

palavras!


A um encontro e desencontro no
desdobrar de falas...

Transcender,

romper.

Ordem,

crise,

superação,

nova ordem...

Necessidade humana,

sou lápis e papel.

Sou mais pergunta que resposta,

mais duvida que certeza.

Sou, não pronto me fazendo.


Robson Freire

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Eleições 2010 e os Aproveitadores da Boa Fé e da Credulidade Evangélica

Rev. Sandro Amadeu Cerveira (02/10/10)

Talvez eu tenha falhado como pastor nestas eleições. Digo isso porque estou com a impressão de ter feito pouco para desconstruir ou no pelo menos problematizar a onda de boataria e os posicionamentos “ungidos” de alguns caciques evangélicos. [1]
Talvez o mais grotesco tenham sido os emails e “vídeos” afirmando que votar em Dilma e no PT seria o mesmo que apoiar uma conspiração que mataria Dilma (por meios sobrenaturais) assim que fosse eleita e logo a seguir implantaria no Brasil uma ditadura comunista-luciferiana pelas mãos do filho de Michel Temer. Em outras o próprio Temer seria o satanista mor. Confesso que não respondi publicamente esse tipo de mensagem por acreditar que tamanha absurdo seria rejeitada pelo bom senso de meus irmãos evangélicos. Para além da “viagem” do conteúdo a absoluta falta de fontes e provas para estas “notícias” deveria ter levado (acreditei) as pessoas de boa fé a pelo menos desconfiar destas graves acusações infundadas. [2]

A candidata Marina Silva, uma evangélica da Assembléia de Deus, até onde se sabe sem qualquer mancha em sua biografia, também não saiu ilesa. Várias denominações evangélicas antes fervorosas defensoras de um “candidato evangélico” a presidência da república simplesmente ignoraram esta assembleiana de longa data.

Como se não bastasse, Marina foi também acusada pelo pastor Silas Malafaia de ser “dissimulada”, “pior do que o ímpio” e defender, (segundo ele), um plebiscito sobre o aborto. Surpreende como um líder da inteligência de Malafaia declare seu apoio a Marina em um dia, mude de voto três dias depois e à apenas 6 dias das eleições desconheça as proposições de sua irmã na fé.

De fato Marina Silva afirmou (desde cedo na campanha, diga-se de passagem) que “casos de alta complexidade cultural, moral, social e espiritual como esses, (aborto e maconha) deveriam ser debatidos pela sociedade na forma de plebiscito” [3], mas de fato não disse que uma vez eleita ela convocaria esse plebiscito.

O mais surpreendentemente, porém foi o absoluto silêncio quanto ao candidato José Serra. O candidato tucano foi curiosamente poupado. Somente a campanha adversária lembrou que foi ele, Serra a trazer o aborto para dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) [4]. Enquanto ministro da saúde o candidato do PSDB assinou em 1998 a norma técnica do SUS ordenando regras para fazer abortos previstos em lei, até o 5º mês de gravidez [5]. Fiquei intrigado que nenhum colega pastor absolutamente contra o aborto tenha se dignado a me avisar desta “barbaridade”.

Também foi de estranhar que nenhum pastor preocupado com a legalização das drogas tenha disparado uma enxurrada de-mails alertando os evangélicos de que o presidente de honra do PSDB, e ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso defenda a descriminalização da posse de maconha para o consumo pessoal [6].

Por fim nem Malafaia, nem os boateiros de plantão tiveram interesse em dar visibilidade a noticia veiculada pelo jornal a Folha de São Paulo (Edição eletrônica de 21/06/10) nos alertando para o fato de que “O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou nesta segunda-feira ser a favor da união civil e da adoção de crianças por casais homossexuais.” [7]

Depois de tudo isso é razoável desconfiar que o problema não esteja realmente na posição que os candidatos tenham sobre o aborto, união civil e adoção de crianças por homossexuais ou ainda a descriminalização da maconha. Se o problema fosse realmente o comprometimento dos candidatos e seus partidos com as questões acima os líderes evangélicos que abominam estas propostas não teriam alternativa.

A única postura coerente seria então pregar o voto nulo, branco ou ainda a ausência justificada. Se tivessem realmente a coragem que aparentam em suas bravatas televisivas deveriam convocar um boicote às eleições. Um gigantesco protesto a-partidário denunciando o fato de que nenhum dos candidatos com chances de ser eleitos tenha realmente se comprometido de forma clara e inequívoca com os valores evangélicos. Fazer uma denuncia seletiva de quem esta comprometido com a “iniqüidade” é, no mínimo, desonesto.

Falar mal de candidato A e beneficiar B por tabela (sendo que B está igualmente comprometido com os mesmo “problemas”) é muito fácil. Difícil é se arriscar num ato conseqüente de desobediência civil como fez Luther King quando entendeu que as leis de seu país eram iníquas.

Termino dizendo que não deixarei de votar nestas eleições.

Não o farei por ter alguma esperança de que o Estado brasileiro transforme nossos costumes e percepções morais em lei criminalizando o que consideramos pecado. Aliás tenho verdadeiro pavor de abrir esse precedente.

Não o farei porque acredite que a pessoa em quem votarei seja católica, cristã ou evangélica e isso vá “abençoar” o Brasil. Sei, como lembrou o apóstolo Paulo, que se agisse assim teria de sair do mundo.

Votarei consciente de que os temas aqui mencionados (união civil de pessoas do mesmo sexo, descriminalização do aborto, descriminalização de algumas drogas entre outras polêmicas) não serão resolvidos pelo presidente ou presidenta da república. Como qualquer pessoa informada sobre o tema, sei que assuntos assim devem ser discutidos pela sociedade civil, pelo legislativo e eventualmente pelo judiciário (como foi o caso da lei de biossegurança) [8] com serenidade e racionalidade.

Votarei na pessoa que acredito representa o melhor projeto político para o Brasil levando em conta outras questões (aparentemente esquecidas pelos lideres evangélicos presentes na mídia) tais como distribuição de renda, justiça social, direitos humanos, tratamento digno para os profissionais da educação, entre outros temas. (Ver Mateus 25: 31-46) Estas questões até podem não interessar aos líderes evangélicos e cristãos em geral que já ascenderam à classe média alta, mas certamente tem toda a relevância para nossos irmãos mais pobres.

______________________

NOTAS

[1] As afirmações que faço ao longo deste texto estão baseadas em informações públicas e amplamente divulgadas pelos meios de comunicação. Apresento os links dos jornais e documentos utilizados para verificação.

[2] http://www.hospitaldalma.com/2010/07/o-cristao-verdadeiro-nao-deve-votar-na.html

[3]http://ultimosegundo.ig.com.br/eleicoes/marina+rebate+declaracoes+de+pastor+evangelico+silas+malafaia/n1237789584105.html
Ver também http://www1.folha.uol.com.br/poder/805644-lider-evangelico-ataca-marina-e-anuncia-apoio-a-serra.shtml

[4]http://blogdadilma.blog.br/2010/09/serra-e-o-unico-candidato-que-ja-assinou-ordens-para-fazer-abortos-quando-ministro-da-saude-2.html

[5] http://www.cfemea.org.br/pdf/normatecnicams.pdf

[6] http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=856843&tit=FHC-e-intelectuais-pedem-legalizacao-da-maconha

[7] http://www1.folha.uol.com.br/poder/754484-serra-se-diz-a-favor-da-uniao-civil-e-da-adocao-de-criancas-por-gays.shtml

[8] http://www.eclesia.com.br/revistadet1.asp?cod_artigos=206

Fonte: Segunda Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte (www.segundaigreja.org.br)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Abertura

Eu fui que fui,
Indo eu pulei, me joguei...
Olhem, à parte do que não é metade, eu sou todo e inteiro.
Me aceitem inteiro e todo assim, bem assim eu sou.
Não sou sua metade e você não é metade minha, somos em nós mesmos. Nos fazendo.
Eu te aceitei assim inteira, não minha metade mais inteira. Um inteiro e outro inteiro, em si mesmos.
Escolhido por escolha própria a companhia do outro.
Não sou resposta às suas orações e nem você às minhas.
Somos orações livres e resposta de nós mesmos.
Outro jamais será o que projetamos; o outro transcende a tudo isso e, por tudo isso, isso ele é: ser humanizando-se...
Sou amor livre, és amor livre...
Amor se dá em liberdade.
Eu canto cantos novos toda manhã para que o tédio não se entedie de minhas canções.
Eu quero uma canção nova, quero poesia erótica e erótica poesia. Quero que a rocha se liquefaça e quero que os absolutos se tornem lutos dos abusos tantas vezes esquecidos.
Quero prosear contigo.
Abaixo o machismo com tantos ismos, ismos que fazem de você palhaço do circo escondido na ponta de seu nariz.
Que toda menina e mulher sejam livres para serem o que são, menina e mulher; que de hoje em diante sejam livres todas as dimensões do ser e todo homem e mulher sejam livres para humanos serem.
Hoje digo bem alto em grito livre: a primeira vocação religiosa do homem e da mulher é humano ser.

Hoje quero flor de cheiro, e cheiro de flor. Quero rabisco no espelho.
Gotas molhadas,
Feijão chocolate,
Beijo da bicuda de beiço macio,
Voz baixa que se diz rouca quando acorda,
Abraço apertado.

Hoje o silêncio habitará comigo para encontrar a ti escondido embaixo de cada pedra e no canto de pássaros. Hoje quero que se desvele para mim, ó desconhecido.



Robson Freire

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O que não quero

Não quero que me digam como viver, quero descobrir vivendo.
Não quero que falem mal de mim, mas isso não posso cobrar, vivo falando mal de vocês...
Não quero casar, por enquanto só namorar; não é porque vocês decidiram casar cedo que também tenho.
Não quero que escolham por mim, quero fazer minhas próprias escolhas.
Não quero ver Deus como dizem que é, quero minha experiência pessoal, mas me alegro em te ouvir falando da sua.
Não quero saber tudo, mas quero saber algo.
Não quero pecar, mas acabo pecando.
Não quero ser guiado em uma religiosidade, mas me descubro religioso onde achava não ser.
Não quero ser preconceituoso, não quero mesmo.
Não quero que ninguém se imponha sobre mim, e prometo não me impor sobre ninguém.
“Todo ser é livre para livre ser...”
Não quero ter sempre razão.
Não quero alcançar essa imagem que me mostram de super-homem, não o “super-homem” de Nietzsche, mas o do mito cristão; quero me admitir humano e me aceitar humano, quero me humanizar antes de me santificar.
Não quero mais usar máscaras, já me basta todo trabalho que tenho pra restaurar a deformação provocada pelo uso de tantos anos da máscara.
Não quero o senso comum, quero a perversão do comum senso.
Não quero leis que se sobreponham à graça, quero a graça que sobreponha à lei.
Não quero a frieza dos templos, mas a dança desregrada dos profetas loucos das praças.
Não quero que me digam “Assim diz o Senhor”, pois o Senhor fala à consciência de cada um. Fala comigo Senhor!
Não quero ter títulos, mas se tiver quero que seja o de humano.


Robson Freire